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sábado, 25 de junho de 2011

TALAGADA PRAIANA.

POSTO ISSO....

Copacabana ainda tem sereias sempre sorrindo? Ainda é cheia de luz? Ainda é a princesinha do mar? Quem já ouviu a imortal canção de João de Barro, na voz maviosa de Dick Farney acha que sim. Pelo menos uma das várias músicas feitas em sua homenagem é lindíssima. Mas talvez a praia em si não seja mais digna do epíteto. Por outro lado, o pequeno trecho final de Copacabana veio, num passe de mágica, parar numa esquina da Paulicéia. Mais precisamente na esquina das Ruas Aspicuelta com Mourato Coelho, na “baixa” Vila Madalena, como querem alguns. Posto isso, estou falando do “Posto 6” (Rua Aspicuelta, 644), um boteco já amplamente premiado e que tem nome de um pedacinho da famosa e extensa praia. Ao lado de Malibu, Waikiki e a vizinha Ipanema, certamente a praia mais famosa do mundo!
Sim, o Posto 6 é um daqueles botecos cariocas importados mas, junto ao Pirajá, é um dos melhores! Nada que não seja do amplo conhecimento de todos, ou de alguns, mas é um boteco extremamente simpático e bem situado.
Já na decoração é possível, aos desavisados, perceber o que o Posto 6 pretende. Uma camisa do Flamengo assinada pelo Galinho de Quintino, objetos antigos, capas de discos clássicos da MPB, caricaturas de ilustres bebedores profissionais brasileiros e um acervo inédito de fotos do Jornal do Brasil, arrematado por um dos sócios do bar que é jornalista. Numa dessas fotos, Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Nélson Motta num balcão de boteco, habitat natural dos citados. Noutra, uma escultural Leila Diniz saindo do mar de biquíni. Ou o momento mágico de um drible desconcertante de Mané Garrincha sobre um “joão” qualquer, lateral do Vasco da Gama. As fotos já valem a visita.
O chopp, Brahma ou Devassa, é muito bem tirado. Mas ainda tem clube do Whisky, cachaças artesanais, uma carta de caipirinhas, inclusive de saquê e os drinques clássicos variados, para os mais ecléticos. Os tiragostos são de dar gosto. Bolinho de arroz, coxinha de galeto, temakis, carne seca desfiada com mandioca, isca de peixe crocante, croquetes de carne, lula a dorê e grelhada, shimeji no alumínio......e os pratos também são excelentes. As chapas de boteco principalmente. A pequena dá pra duas pessoas. A grande pra quatro! Picanha, calabresa, mista, uma festa! E ainda tem a “chapa do mar”, com peixes, legumes, camarões, lulas e polvo. Sensacional! Acrescente-se a isso alguns escondidinhos variados, sandubas, pizzas e saladas. É para todos os gostos e tudo bem feito.
Mas eu acho que o verdadeiro atrativo do boteco está do lado de fora. Na casa que fica na esquina em frente (onde embaixo funciona um bar dos mesmos donos), existe uma imaculada parede branca onde antigamente filmes e jogos de futebol eram projetados, para o deleite de quem ocupava as mesas de calçada. Hoje, no mesmo espaço, é projetado o “cineboteco”, um canal de TV idealizado pelos donos da casa e de circuito espalhado por muitos bares da cidade. Lá é possível, inclusive, visualizar as charges do imortal “Tulípio”, personagem criado por meu amigo Eduardo Rodrigues, já famoso em vários lugares do Brasil. Bacana demais! Aldir Blanc e Jaguar são fãs. Precisa falar mais?
Para por fim ao palavrório, se Copacabana hoje sobrevive porque não presta atenção às suas impossibilidades, como disse L. F. Veríssimo, o Posto 6 sobrevive condignamente num oceano de botecos justamente por prestar muita atenção às suas possibilidades.
É só passar uma tarde lá para conferir!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

TALAGADA NOTURNA.

MATRIZ OU FILIAL?


A dúvida que assaltou Lúcio Cardim, o autor da música (ou a musa dele), por vezes também me atropela. Após a era de ouro do Clube do Choro e do Vou Vivendo, ambos competentemente capitaneados pelos irmãos Altmann, restou um buraco negro na noite paulistana. É certo que nesse momento outros bares estavam tentando preencher o vácuo e alguns até atingiram o seu intento. Por outro lado, até o ano 2000 (lá se vão onze anos de glória) por mais inacreditável que pareça, não existia na Vila Madalena um bar sequer onde se pudesse saborear um chopp decente. Isso até a inauguração do Filial (Rua Fidalga, 254) pelos mesmos irmãos Altmann, que bem lá no comecinho chamava-se Filial do Chopp (a abreviação do nome não abreviou as qualidades). Mas naquele momento o Filial era matriz, porque na verdade, não existia uma matriz.
O talento do bar logo se revelou. O melhor fim de noite de São Paulo e até hoje ele fomenta essa fama. Não é difícil descobrir o motivo. Basta chegar lá as duas da manhã em qualquer dia da semana para verificar que a casa está fervilhando, com espera no apertado balcão. E fica aberta até o último chato.
Não pense você que passará pelo constrangimento traumatizante de assistir os garçons colocando as cadeiras sobre as mesas e jogando água no seu sapato novo enquanto você pede desesperadamente a saideira e a conta (pela oitava vez). Lá isso definitivamente não acontece! Se acontecer é sinal de que morreu alguém.
O chopp, como já ficou nas entrelinhas, é muito bem tirado e gelado. As comidas são um espetáculo, como diria meu amigo Ildo do Cavaco. Eu adorava o “Prego com Martelo” (sanduíche de filé, queijo derretido e presunto cru) que parece ter saído do cardápio mas ainda é encontrado no filial do Filial (Bar Genial, mas isso já é outra história). O ideal é chegar lá com fome de dois dias e pedir logo o “Prato de Mãe” número 1 (existem mais duas versões). Arrozfeijãofiléovofritoefritas! Ma-ra-vi-lho-so!
Mas o cardápio é vasto e pode ser encontrado na íntegra no site (bacana) do bar (pesquise no google oras bolas!).
Eu ainda recomendo as batatas fritas com ovos estrelados, as frigideiras de arroz (risotos e afins), o estrogonofe Filial e o prosaico filé com fritas mas isso é questão de gosto pessoal.
Dificilmente você não encontrará algum famoso em uma das mesas (ou vários ao mesmo tempo). Cantores, músicos, jornalistas esportivos e outros espécimes de animais noturnos. Nos dias de semana, a turma toda do CartãoVerde (TV Cultura) faz ponto lá, depois do programa. Meu amigo Vladir Lemos, Xico Sá, um ou outro convidado e o Dr. Sócrates comandando o meio de campo e o chopp. Já vi o Raí por lá também trocando passes com o irmão mais velho (informação importante para as leitoras). Não costumam levantar a bunda da cadeira antes das 3 da matina!
O bar funciona durante o dia também, mas é depois da meia-noite que ele cumpre a sua nobre função com galhardia. O escritor renascentista Leão de Módena disse que “a noite foi feita para podermos refletir no que fizemos durante o dia”. Eu acrescentaria “e ir ao Filial”, ainda que você espere duas horas por uma mesa!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

TALAGADA LUDOPÉDICA.

NA CASA DO SANTO

São Cristóvão (em grego: Άγιος Χριστόφορος, em latim: Christophorus) é um santo venerado por católicos e cristãos ortodoxos, classificado como mártir morto durante o reinado de Décio, imperador romano do século III. Apesar de ser um dos santos mais populares do mundo, muito pouco se sabe sobre sua vida. Além de ser padroeiro dos solteiros (não posso pedir mais nada a ele) e motoristas, é nome de time de futebol do Rio de Janeiro, cuja maior glória e talvez única, já que seu último campeonato estadual foi o de 1926, foi ter revelado ao mundo o Fenômeno recém aposentado. Que me perdoe a sua grande torcida.
Em São Paulo o São Cristóvão Futebol e Regatas está condignamente representado por um boteco bacana, evidentemente chamado Bar São Cristóvão (Rua Aspicuelta, 533).
Nem que você não queira beber e nem comer nada o bar vale a visita. Você pode entrar, olhar as paredes e sair fingindo que não encontrou mesa vaga. Isso porque existem 3.500 fotos, flâmulas e camisetas, todos esses itens relacionados ao nobre esporte bretão.
Se você resolver ficar, vai se dar bem. Mas é aconselhável levar ao bar um ou mais amigos que sejam apaixonadamente desvairados pelo assunto futebol. Olhando as fotos nas paredes certamente as discussões vão surgir e quem odeia futebol vai ficar entediado. O gol “mano de diós” de Maradona, a linha média do Santos dos anos 60, com Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, o Botafogo de Didi e Garrincha, o Flamengo da era Zico, o Real Madri dos tempos de Puskas e Di Stefano, o Barcelona de Cruiff, Romário, Rivaldo, a gloriosa Academia alviverde de Ademir da Guia, a flâmula do Ybis Futebol Clube (o pior time do mundo!), charges da revista Placar dos anos 70, tudo isso está lá! Para quem gosta da história do futebol, como eu por exemplo, o bar é um mini museu.
Se você resolver beber, não vai se arrepender. O chope Brahma é razoavelmente bem tirado e as cachaças são as bacaninhas de praxe. Se quiser comer também vai gostar. Os pratos são ótimos. Filé a Oswaldo Aranha, caldinho de feijão carioca, bacalhau desfiado com feijão fradinho e algumas massas e empadões goianos dão conta do recado e da fome.
Aos sábados uma feijoada bem boa é servida e aos domingos tem roda de samba com algumas figuras carimbadas do gênero. Mas em dias normais é possível encontrar a nata do jornalismo esportivo da televisão e do rádio. Já vi equipes inteiras da Globo, SporTv e ESPN se refestelando no chope. Nada mais óbvio! Certamente eles não freqüentariam um bar cujo tema fosse o empolgante curling.
O serviço é eficiente e simpático e o ambiente agradável e despojado. Tem, enfim, tudo para ser um bar a ser freqüentado regularmente. Os preços é que já foram melhores, mas depois da explosão de botecos nas vizinhanças a tendência foi que eles explodissem também. Portanto, cuidado!
Evite ainda os dias em que algumas bandas de jazz e de salsa se apresentam na casa (segundas-feiras, creio). O ambiente é pequeno e o volume da música ao vivo é compatível com o do Credicard Hall. Ninguém consegue conversar e nem se entender. Você corre o risco de levar um soco se disser alto a frase: “em 68 o Corinthians acabou com o tabu”!
No geral, entretanto, é um boteco altamente recomendável aos loucos por futebol (menos os nerds do programa de TV homônimo, peloamordedeus!), mesmo porque, como mui apropriadamente dizia Oswald de Andrade, “Quem negará ao futebol esse condão da catarse circense com que os velhos sabidos de Roma lambuzavam o pão triste das massas?”

sexta-feira, 3 de junho de 2011

TALAGADA ESQUÁLIDA.

MAGRO DE RUINDADE?



O genial Nelson Rodrigues disse que “todo canalha é magro”. O que nem de perto significa que todo magro seja canalha! Pelo contrário. Conheço vários magros (e gordos também) que são a fina flor da gentileza e da honestidade. Eu mesmo já mereci a alcunha de “Magrão”, há 25 quilos atrás.
Tirando o ex-jogador Sócrates, conheço outro Magrão que também é gente “finíssima”. Seu nome é Luiz Antonio Sampaio e ele é dono do excelente “Bar do Magrão” (Rua Agostinho Gomes, 2.988). Quem disse que não existem bons bares no Ipiranga?!
Para começo de conversa é um boteco de esquina, o que já o habilita a entrar no seleto mundo dos autênticos. Pelo menos os autênticos de esquina. A decoração é caoticamente perfeita e não foi idealizada por nenhum “arquiteto de interiores” mas pelo próprio dono. Mais um ponto. Nas paredes relógios antigos convivem com luvas de boxe, sapatos de palhaço e guitarras. São aqueles cacarecos que todos temos em casa e que os clientes foram levando pouco a pouco para presentear o bar. Pode soar estranho mas dá um clima único ao bar e não importa que o ambiente seja escuro e pequeno (é até melhor assim), o bar tem clima!
Como sói acontecer com os bares de minha preferência, existem no cardápio mais de setenta rótulos de cerveja, nacionais e importadas. Isso é bom.
A comida merece um capítulo separado. Isso porque espertamente (esperteza boa, que fique bem claro), o dono percebeu que tinha público para abrir uma cantina ao lado do bar. Foi o que ele fez! E quando eu digo ao lado quero dizer parede meia. Tanto que o bar tem passagem interna para a cantina e, obviamente, vice-versa. É a Cantina do Magrão que já foi descrita como um lugar para NÃO levar seu tio rico nem impressionar uma namorada. É, pelo contrário, uma daquelas espeluncas de filmes de Máfia (como na cena do restaurante em O Poderoso Chefão I), com decoração também sui generis (não espere bandeirolas da Itália e nem falsos varais com roupa estendida) onde se come pasta e carne decente, se bebe barato e se pode ficar quieto na penumbra. Os pratos tem, como não poderia deixar de ser, acento cantineiro, com destaque para o molho de calabresa.
Exceção feita a algum ou outro deslize da casa, eu reputo como um programão bem bacana para um sábado a noite: Comer uma boa massa na Cantina e depois se acabar de cerveja no bar contíguo, e, mesmo que a ordem dos tratores não altere o viaduto é sempre recomendável encher a lata de bucho cheio!
E nunca esqueça de que, provavelmente, você mora longe de lá (é o meu caso) e, provavelmente, vai ter de voltar dirigindo o seu possante, driblando a plêiade de comandos e radares espalhados na cidade só para tirar a sua alegria de viver e relembrar que todo prazer tem um preço!
No mais, se não for o caso descrito acima, beba à vontade, mesmo porque o escritor inglês Thomas Love Peacock já disse que “Há duas razões para beber: a primeira quando estamos com sede, é curá-la; a segunda é quando não estamos com sede, é preveni-la....a prevenção é melhor que a cura”!