Total de visualizações de página

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

TALAGADA CARNÍVORA.


VILMAAAAAAA...

Quem não se lembra? Na abertura do desenho animado “Os Flintstones” Fred tira o tigre dente de sabre de dentro de casa. Logo após é o tigre quem o expulsa e ele fica do lado de fora batendo na porta e gritando “VILMAAAA”! A imortal criação de Hanna e Barbera embalou as tardes de muito marmanjo. Incluindo euzinho. Sempre quis ter um dinossauro de estimação, ou um carro com propulsão de sola de pé. Uma vez até tive um. Era um fusca tão enferrujado que quase fica sem o piso.
Sonhei muitas vezes com os filés de brontossauro que Fred e Barney devoravam e este sonho também se concretizou no dia em que encontrei alguma coisa bem parecida. Evidentemente foi no Sujinho – Bisteca D´Ouro (Rua da Consolação, 2038). Um barzão na fulgurante esquina da Consolação com a Rua Maceió.
A história do Sujinho é pouco conhecida. Não se sabe exatamente se nos anos 60 ou 70, era um simples boteco ao lado do Teatro Record, que, de repente, começou a servir algumas refeições. Os apelidos da espelunca pegaram. Sujinho, por motivos óbvios (quem o conheceu nessa época sabe o porque) ou o sub-apelido “Bar das Putas”, numa singela homenagem às corajosas moças de vida fácil (hãhã!) que faziam o “trottoir” nas redondezas, perto do Cemitério da Consolação ou na famosa “casa da luz vermelha” da “Tia Olga” (lugar preferido de 11 entre 10  adolescentes da época).
O filé de brontossauro ao qual me referi acima era uma bisteca bovina gigante, de 700 gramas de carne suculenta e osso, que até hoje é o carro chefe da casa e necessita de dois garçons para trazê-la à mesa. A simples visão da imensa iguaria causa um inesquecível impacto e já satisfaz. Quantas madrugadas, pós aventuras e desventuras, fui até lá matar a fome antes do sono dos justos! Uma bisteca e a saladinha de repolho! É tudo o que um homem necessita depois das 3 da manhã! Certa vez o estado alcoólico era tão desesperador que adormeci sobre a bisteca, certamente achando que era o melhor travesseiro de pena de ganso com cheiro de churrasco do mundo!
O fato é que nos anos 80 o boteco, nas mãos de novos donos portugueses, se popularizou. Nos anos seguintes uma extensa reforma transformou-o num lugar um pouco mais apresentável e duas outras filiais foram inauguradas. Mas o Sujinho (que acabou se apropriando do apelido transformando-o em nome oficial) continua tendo uma indisfarçável vocação para a madrugada. Continua sendo um destino seguro para os boêmios esfomeados de plantão!
Além da bisteca já descrita a grelha do boteco ainda produz algumas outras maravilhas. Picanha, cordeiro, espeto misto e um pintado na brasa dos deuses, tudo em tamanhos dinossáuricos, que fariam de Fred Flintstone o mais feliz dos neandertais. 
Mas liberte o T. Rex que existe dentro de você e ataque de bisteca, pelo menos na primeira visita. Acredite, se eu fizesse uma lista chamada “100 pratos para devorar antes de morrer” a bisteca do Sujinho figuraria em 7º, talvez 6º lugar.
Para bebericar, as cervejas nacionais de sempre em garrafas grandes. Não me lembro de muita coisa mais porque sempre estive lá na alta madrugada, em condições que não me permitiam beber um gole sequer.
Para finalizar, volto ao assunto da reforma. Sim, o bar ficou bem mais agradável e ganhou um andar de cima. Virou um Sujinho arrumadinho. Mas sou obrigado a professar a minha inevitável admiração pelo boteco pé-sujo. O Sujinho já foi um pé-sujo autêntico, com azulejos de péssimo gosto nas paredes, chão mais gorduroso do que cabelo de galã dos anos 30 e uma churrasqueira fumacenta na entrada, Saudade! Como disse Luiz Fernando Veríssimo, boteco bom é aquele onde os ratos usam máscaras cirúrgicas e as baratas fazem passeata na porta contra as péssimas condições de higiene!


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

TALAGADA DANÇANTE.

QUEM NUNCA VIU...

O samba amanhecer? Vai no Bixiga prá ver, recomendaria o grande Geraldo Filme. Isso nos anos 60 ou 70. Hoje o bairro, que já foi reduto do samba e berço da querida Escola de Samba Vai Vai, é um nostálgico arremedo do que já foi um dia. De seu passado de glórias, de bairro boêmio da cidade, só restaram os antigos casarões. Os bares mais famosos, Café Soçaite, Boca da Noite, já fazem parte da história. Sim, após décadas de exploração desenfreada, de especulação imobiliária, de ausência de investimentos públicos que prestigiassem o evidente destino turístico do bairro, o querido Bixiga agoniza. Mas não morre! Como dizia o poeta inglês Samuel Butler, “quem está em baixo não pode cair mais fundo”.
Apenas um bar decente restou, para representar o inebriante passado da velha ladeira da Treze de Maio. É o Café Piu Piu (Rua Treze de Maio, 134). E continua pulsante desde a inauguração em 1983, em plena e agitada atividade, quase todos os dias da semana, com um público mais fiel do que um labrador carente!
Ao chegar na entrada temos a impressão de que é um lugar pequeno, mas após a primeira e única porta um vasto salão se abre, com mezanino e tudo. O ambiente é escuro, como convém a uma casa de shows e de dança, mas a decoração (que não muda há muitos anos) é bacana e aconchegante. Um bar enorme, com muitas garrafas dispostas na estante iluminada (bacana), janelões com vitrais, mesas com tampo de mármore, é no mínimo um lugar diferente.
No departamento comes e bebes não foge muito do normalzão. O clássico dos clássicos provolonão à milanesa está lá! Ainda tem o tal de “latke”, que é um bolinho frito de batata ralada, escondidinhos, beirutes, sanduíches e bruschettas, mas fala sério, com a profusão de cantinas na vizinhança (algumas ainda boas), você não vai cometer o desatino de ir lá para jantar! Para beber, o-bom-e-velho-chopp-Brahma, cervejas long neck (para mim long neck é girafa), Pina Colada, Cuba Libre e caipirinhas. Pronto, é o que há de destaque.
Como acontece com vários bares aqui tratados, o forte da casa é a música ao vivo. Em seu enorme (para um bar) e super bem localizado palco já passou (e ainda passa) muita gente bacana. Mônica Salmaso em comecinho de carreira, Vanessa da Mata idem,....e tantas outras vozes hoje Globais! Lembro-me com nostalgia dos tempos em que a excelente banda de gafieira CometaGafi, dos meus amigos Adilson Rodrigues, Cláudio Duarthe e troupe, se apresentava lá um domingo por mês. Era sensacional. Hoje, a programação é variadíssima, para gregos e troianos, mouros e cristianos. Nas quartas tem de tudo, fado, jazz, etc, etc, com boas bandas em geral desconhecidas. Às quintas, sextas e sábados, classicões do rock para nós, os dinossauros que ainda lamentam que já não se fazem mais bandas como Led Zeppelin, Uriah Heep, Pink Floid, The Doors, Beatles/Rolling Stones, Deep Purple e outras tantas mais! Aos domingos a programação é variada e geralmente boa, com shows e eventos de escolas de música. No geral é tudo muito interessante. Principalmente se le gusta bailar!
Para finalizar, há alguns anos ouvi da boca da dona do Piu Piu uma história curiosíssima. Numa pequena reforma do bar descobriram que no subsolo há, intocado, um teatro antigo (do século 19 provavelmente), que nem os historiadores do bairro sabiam que existia. Na época a idéia era conseguir um patrocínio para restaurar, preservar e recuperar o teatro para shows, colocando no Piu Piu um chão de vidro (bem resistente evidentemente), para que as pessoas pudessem ver o teatro iluminado sob seus pés. Seria simplesmente maravilhoso se isso acontecesse! Porém, como eu nunca mais ouvi falar do assunto, acho que o patrocínio não veio, as autoridades não se interessaram (como de costume) e o projeto se perdeu. Mas o teatro, espero, ainda está lá!!! Pena que ninguém mais dá importância a isso! Pena!!!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

TALAGADA CHATEADA

BÄR DES DEUTSCHEN

Bem ali pertinho da sede do melhor time de futebol do mundo, a gloriosa Sociedade Esportiva Palmeiras, vários bares pulularam. Muitos deles para que os tifosi palestrinos comemorassem as altaneiras vitórias do Alviverde de Parque Antártica, hoje carinhosamente conhecido como porcooooooooo, entornando cerveja em quantidades maiúsculas. Até o nome do antigo estádio (que em breve dará lugar à cintilante Arena) induz ao consumo do nobre líquido. Isso porque antes que a Societá Sportiva Palestra Itália o adquirisse era um parque da cervejaria Antártica, onde no início do século passado os moçoilos de chapéu de palha iam passear com suas namoradas e beber cerveja! O local tem, pois, tradição no que diz respeito ao consumo do saudável e saboroso sub-produto da cevada.
Já bem mais tarde, em 1968, tempos da inesquecível academia de Ademir da Guia e Dudu, surgiu ali ao lado o Bar do Alemão (Avenida Antártica, 554). E já nasceu com uma iniludível vocação para perdurar no tempo.
Desde os primórdios o bar teve uma decoração bávara. Ela foi mantida até hoje. Dá a impressão de que Joseph Mengele vai entrar pela porta a qualquer momento e pedir um chopp e um salsichão geneticamente modificado. O ambiente é pequeno, com poucas mesas e tem um mezanino menor ainda. Mas é aconchegante.
O chopp sempre foi bom e para acompanhar peço sempre uma porção de canapés bem interessante. Mas tem também um bom churrasquinho (sanduíche), salsichões, omeletes e boas comidinhas alemãs. Já a música ao vivo, não tem nada de alemã! (meno male).
Segundo o economista e bandolinista Luís Nassif e minha amiga Roberta Valente, excelente percussionista e pesquisadora de texto impecável, o primeiro dono do Alemão, Murilo, fechava o bar oito da noite e depois disso só entrava quem era músico. O próximo dono, o pandeirista Dagô, elevou definitivamente o boteco ao patamar de reduto de boa música. Em suas mesas estiveram Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e Paulo César Pinheiro. É brincadeira?!
Hoje um dos donos é nada mais nada menos do que Eduardo Gudin, na minha opinião um dos principais representantes do genuíno samba paulistano e compositor inspiradíssimo. Garantia de que o bar tenha boa música todas as noites. E tem. Além das aguardadas e celebradas canjas de Gudin, o lendário percussionista Jorginho Cebion, o ótimo violonista da noite Valdo, Henrique ao cavaquinho e bandolim, a maravilhosa cantora Dona Inah, a pequena/grande percussionista Kika, o violão de Serginho Arruda e muitos outros mais estão sempre por lá, na mesa redonda ao centro do bar, cuja foto já foi até capa de disco do dono em priscas eras. Boêmia em estado puro! Quem conhece esses nomes sabe do que estou falando. Isso faz com que o clima reinante no bar, todas as noites da semana, seja de permanente festa, de roda de samba da melhor qualidade, salvo algumas raras e inexpressivas exceções.
Falando nisso, como todos os bares da cidade, o Bar do Alemão tem um probleminha: A quantidade de chatos que freqüenta o lugar é insalubremente excessiva e uma vez que o bar é pequeno a chatice se eleva à enésima potência. Tem tanta mala que parece o depósito da Le Postiche. Mas convenhamos, num honesto exercício de auto-crítica é forçoso reconhecer que todos nós temos um chatão morando aqui dentro (esse meu papinho mesmo é muito chato) e como dizia Guilherme Figueiredo no genial livro Tratado Geral dos Chatos, “todo indivíduo tem o chato que merece. É impossível chatear o chato. Dois chatos da mesma espécie não se chateiam”.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

TALAGADA SERPENTEANTE.

FIADO SÓ AMANHÃ


“Fiado é igual barba, se não cortar, cresce”, “Fiado só para maiores de 90 anos acompanhados dos pais”,“Fiado? Só em dia de feriado, que o boteco está fechado”. Quem nunca se deparou com uma dessas pérolas escrita no balcão de um bar põe o dedo aqui! Se o bar é o lugar onde a loucura é vendida em garrafas, o balcão é a sua alma. Sempre digo: Bar que se preze tem que ter balcão! E já expliquei o motivo. O balcão permite que você freqüente o bar desacompanhado, sem pagar o mico de se sentar sozinho à mesa. Simples! E o balcão ainda permite que você encha o saco do barman com suas dores de amores. Já foi um dos meus esportes prediletos! O que dizer então de um bar que é um imenso e serpenteante balcão? Sim, já dá pra notar que estou falando do famigerado “Bar Balcão” (Rua Melo Alves, 150).
Há mais de 15 anos ele sobrevive em pleno “jardins”, o que já é um feito notável. Isso porque é um bar pra lá de sofisticado e original. Como eu já havia adiantado, o bar é um balcão de 25 metros, com banquetas dos dois lados (idéia ótima!). A decoração é bacanérrima, com direito a uma tela autêntica do maior expoente da pop art americana, Roy Lichtenstein!
Da pequena cozinha, nada de muito substancioso ou original. Algumas opções de sanduíches no pão ciabata e só, pelo que eu me lembre. Para beber, boas caipirinhas e uma carta de vinhos de respeito, como convém a um bar chique dos jardins. Nada de chopeira e cachaças de estirpe. Isso porque ninguém vai lá com a séria e deliberada intenção de matar a fome ou de beber até cair. O propósito do bar, e isso salta aos olhos já na primeira impressão, é de que é um lugar para solitários com vontade de bater papo furado, ou um papo cabeça, dependendo de quem você conhecer lá.
O que ocorre é que essa história de um balcão com banquetas dos dois lados vai jogá-lo cara a cara com alguém que você nunca viu antes e isso é algo interessante. Ou pode ser um desastre. É uma questão de sorte! Dificilmente você se sentará frente a frente com uma moça que é a cara da Jéssica Biel, com o corpo da Juliana Paes, louca para beijar (e otras cositas más) o primeiro zé ruela que aparecer. Mas quando eu era solteiro (que isso fique bem claro) pude observar que as freqüentadoras são bem bonitas e interessantes.
Já li em algum lugar que o bar é freqüentado por gente “antenada”. Nunca vi um marciano e nem um híbrido de ser humano com formiga que justificasse as antenas, mesmo porque esse é um termo típico de críticos de jornais “antenados”. São pessoas no máximo “descoladas” (outro termo horroroso! Descoladas de que, meu Deus???!!!).
O que importa na verdade é que o bar é uma elegia à paquera e a paquera é a aquarela do amor! Mas é uma paquera em alto estilo, no nível “jardins”. Portanto recomenda-se trajes bacanas e um papo interessante, sem ser muito intelectual ou enfadonho. Não comente futebol e nem assovie um pagode sob pena de ser expulso. Tenha sempre em mente que na sua frente poderá estar sentada a mulher da sua vida, nem que seja por uma noite, e que ela deve ser, sim, uma moça inteligente, culta e viajada além de Miami ou Orlando.
Vá disposto, portanto, a praticar aquele outro esporte inventado pelos britânicos chamado “flirt”, aportuguesado para “flerte” (mais interessante do que o futebol e olha que eu adoro futebol). Por fim, lembre-se sempre da lição do grande Oscar Wilde que dizia que “a única diferença entre um flerte e uma paixão eterna é a de que um flerte dura um pouquinho mais”.